Em 145 anos, passou por momentos difíceis. Chegou a ser fechado em 1889, mas felizmente resistiu às crises. Atualmente, tem convênios com inúmeras ONGs, universidades, órgãos públicos nacionais e estaduais. Nilson Gabas Júnior, diretor da instituição, tem procurado expandir as fronteiras de atuação do museu e promover acordos de cooperação internacional.
O Goeldi é guardião de 4,5 milhões de itens tombados distribuídos entre os acervos zoológico, botânico e geológico, onde estão armazenados exemplares de peixes, aves, répteis, anfíbios, mamíferos, insetos, madeiras, tecidos vegetais, pólen, frutos, minerais, rochas e aracnídeos. Seu acervo antropológico possui curadorias voltadas para arqueologia, etnografia e linguística indígena.
Nilson Gabas formou-se em jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC) em 1984. Fez mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), doutorado na University of California, Estados Unidos, e pós-doutorado na Universitaire Instelling Antwerpen, Bélgica. O que ele estudou esses anos todos? Linguística indígena.
Sua história com a Amazônia começou em 1988, quando veio participar de um curso. Foi convidado para passar uma temporada em Belém depois do mestrado, o que o motivou a estudar além da conta para concluí-lo em apenas nove meses. “Quer melhor lugar do mundo para trabalhar com isso do que a Amazônia?”, questiona, com sorriso espontâneo e olhar de quem sabe que fez a coisa certa.
“É preciso ter mais gente pesquisando na Amazônia, só que conseguir vagas é uma briga de foice”, diz. Nos últimos cinco anos, o Ministério do Planejamento liberou apenas duas para pesquisadores no Goeldi, além de outras quatro para tecnologistas – isso gera prejuízos à sociedade, uma vez que o MPEG é uma instituição que fornece subsídios para a formação de políticas públicas voltadas à conservação da biodiversidade e à preservação da cultura amazônica. “Não consegui ninguém aqui do Goeldi para dar uma nota técnica sobre as mudanças propostas para o novo Código Florestal”, lamenta. Uma das maneiras de contornar o problema seria, além da abertura de novas vagas, o próprio interesse de alunos e pesquisadores em passar temporadas na Amazônia.
O gaúcho Victor Py-Daniel é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. Ele mora na cidade há 32 anos, 12 a mais do que imaginou que moraria. "Os brasileiros precisam sentir a Amazônia em vez de apenas pensar sobre ela", convida.
Ima Vieira, que já coordenou o Goeldi, não esconde suas preocupações sobre a pesquisa na região. “Enfrentamos alguns problemas e dois deles são a falta de concursos públicos e de disposição das pessoas. Aqui, o pesquisador não tem as facilidades de laboratórios das regiões sul e do sudeste do país, mas tem um laboratório natural que compensa qualquer dificuldade. Se, nos próximos cinco anos, não houver incremento de pessoal que estude a Amazônia na Amazônia, veremos o colapso de algumas áreas de pesquisa como taxonomia, arqueologia e lingüística indígena”, alerta a pesquisadora.
A infraestrutura do MPEG é composta, entre outras coisas, por laboratórios, a Estação Científica Ferreira Penna, uma base de três mil metros quadrados em meio a 33 mil hectares da Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará, o Horto Botânico Jacques Huber e o Parque Zoobotânico. O prédio Domingos Soares Ferreira Penna ou “Rocinha”, é o símbolo do museu. Ganhou este apelido porque ficava longe do resto da cidade. Hoje, a avenida Governador Magalhães Barata é das mais movimentadas. O cenário mudou, mas o apelido, não.
Quatro coordenações conduzem as linhas de pesquisa: ciências da terra e ecologia, botânica, zoologia e ciências humanas. Oferece mestrado em botânica tropical em parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), em ciências ambientais juntamente com a Embrapa Amazônia Oriental e Universidade Federal do Pará (UFPA), além de mestrado e doutorado em zoologia e ciências sociais, em parceria com a UFPA. Em junho, Gabas Júnior enviou ao CAPES/Ministério da Educação uma proposta para a criação de um programa de doutorado em botânica e ciências ambientais.
Impossível negar a sensação de alegria ao passar pelo portão do Parque Zoobotânico do MPEG, uma área verde de 5,4 hectares em meio a prédios antigos. O caminhar pelo parque é tranquilo – e assim deve ser, pois como ficar indiferente a árvores centenárias, caso da Guajará, já adulta na época da inauguração do próprio museu, fundado há 144 anos?
Em dezembro de 1894, parte do atual terreno foi comprado pelo governo por 120 contos de réis de um dos coronéis mais bem sucedidos da época. Que fazer com essa área verde? “Uma atraente escola de intuição das obras da natureza amazônica”, respondeu Emílio Goeldi, que já dirigiu o museu. “Eu não nasci nesta terra, mas hoje me vejo aqui por nenhum outro motivo senão o amor à ciência e a vontade de criar na Amazônia um sólido reduto para ela”. Um ano depois, nascia o parque, hoje é tombado como patrimônio histórico do Brasil e do Pará. Recebe, por ano, 300 mil visitantes.
Histórias como essas fazem parte da biografia do Parque Zoobotânico. Dizem que os visitantes andam mais educados ultimamente – também pudera. Um lugar secular e interessante como esse não existe em todas as esquinas da cidade.
Assista a trechos da entrevista com Nilson Gabas Jr, diretor do Museu Goeldi.
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