sábado, 5 de março de 2011

DADOS IMPORTANTES DA HISTÓRIA DA AMAZÔNIA



Para compreendermos a importância de uma instituição como o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), que fica em Belém, no estado do Pará (PA), é preciso fazer uma viagem que começa em 1866, ano de sua fundação. Sua história, recheada de lutas, resultou, para regozijo da ciência brasileira, em um dos maiores museus de história natural do país, com dados inestimáveis sobre a Amazônia.

Em 145 anos, passou por momentos difíceis. Chegou a ser fechado em 1889, mas felizmente resistiu às crises. Atualmente, tem convênios com inúmeras ONGs, universidades, órgãos públicos nacionais e estaduais. Nilson Gabas Júnior, diretor da instituição, tem procurado expandir as fronteiras de atuação do museu e promover acordos de cooperação internacional.

O Goeldi é guardião de 4,5 milhões de itens tombados distribuídos entre os acervos zoológico, botânico e geológico, onde estão armazenados exemplares de peixes, aves, répteis, anfíbios, mamíferos, insetos, madeiras, tecidos vegetais, pólen, frutos, minerais, rochas e aracnídeos. Seu acervo antropológico possui curadorias voltadas para arqueologia, etnografia e linguística indígena.



Gabas e a ciência na Amazônia 
Nilson Gabas formou-se em jornalismo na Pontifícia Universidade Católica (PUC) em 1984. Fez mestrado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), doutorado na University of California, Estados Unidos, e pós-doutorado na Universitaire Instelling Antwerpen, Bélgica. O que ele estudou esses anos todos? Linguística indígena.
Sua história com a Amazônia começou em 1988, quando veio participar de um curso. Foi convidado para passar uma temporada em Belém depois do mestrado, o que o motivou a estudar além da conta para concluí-lo em apenas nove meses. “Quer melhor lugar do mundo para trabalhar com isso do que a Amazônia?”, questiona, com sorriso espontâneo e olhar de quem sabe que fez a coisa certa.

“É preciso ter mais gente pesquisando na Amazônia, só que conseguir vagas é uma briga de foice”, diz. Nos últimos cinco anos, o Ministério do Planejamento liberou apenas duas para pesquisadores no Goeldi, além de outras quatro para tecnologistas – isso gera prejuízos à sociedade, uma vez que o MPEG é uma instituição que fornece subsídios para a formação de políticas públicas voltadas à conservação da biodiversidade e à preservação da cultura amazônica. “Não consegui ninguém aqui do Goeldi para dar uma nota técnica sobre as mudanças propostas para o novo Código Florestal”, lamenta. Uma das maneiras de contornar o problema seria, além da abertura de novas vagas, o próprio interesse de alunos e pesquisadores em passar temporadas na Amazônia.

O gaúcho Victor Py-Daniel é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus. Ele mora na cidade há 32 anos, 12 a mais do que imaginou que moraria. "Os brasileiros precisam sentir a Amazônia em vez de apenas pensar sobre ela", convida.

Ima Vieira, que já coordenou o Goeldi, não esconde suas preocupações sobre a pesquisa na região. “Enfrentamos alguns problemas e dois deles são a falta de concursos públicos e de disposição das pessoas. Aqui, o pesquisador não tem as facilidades de laboratórios das regiões sul e do sudeste do país, mas tem um laboratório natural que compensa qualquer dificuldade. Se, nos próximos cinco anos, não houver incremento de pessoal que estude a Amazônia na Amazônia, veremos o colapso de algumas áreas de pesquisa como taxonomia, arqueologia e lingüística indígena”, alerta a pesquisadora.



Raio X do Goeldi
A infraestrutura do MPEG é composta, entre outras coisas, por laboratórios, a Estação Científica Ferreira Penna, uma base de três mil metros quadrados em meio a 33 mil hectares da Floresta Nacional de Caxiuanã, no Pará, o Horto Botânico Jacques Huber e o Parque Zoobotânico. O prédio Domingos Soares Ferreira Penna ou “Rocinha”, é o símbolo do museu. Ganhou este apelido porque ficava longe do resto da cidade. Hoje, a avenida Governador Magalhães Barata é das mais movimentadas. O cenário mudou, mas o apelido, não.

Quatro coordenações conduzem as linhas de pesquisa: ciências da terra e ecologia, botânica, zoologia e ciências humanas. Oferece mestrado em botânica tropical em parceria com a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), em ciências ambientais juntamente com a Embrapa Amazônia Oriental e Universidade Federal do Pará (UFPA), além de mestrado e doutorado em zoologia e ciências sociais, em parceria com a UFPA. Em junho, Gabas Júnior enviou ao CAPES/Ministério da Educação uma proposta para a criação de um programa de doutorado em botânica e ciências ambientais.
 

Parque Zoobotânico

Impossível negar a sensação de alegria ao passar pelo portão do Parque Zoobotânico do MPEG, uma área verde de 5,4 hectares em meio a prédios antigos. O caminhar pelo parque é tranquilo – e assim deve ser, pois como ficar indiferente a árvores centenárias, caso da Guajará, já adulta na época da inauguração do próprio museu, fundado há 144 anos?

Em dezembro de 1894, parte do atual terreno foi comprado pelo governo por 120 contos de réis de um dos coronéis mais bem sucedidos da época. Que fazer com essa área verde? “Uma atraente escola de intuição das obras da natureza amazônica”, respondeu Emílio Goeldi, que já dirigiu o museu. “Eu não nasci nesta terra, mas hoje me vejo aqui por nenhum outro motivo senão o amor à ciência e a vontade de criar na Amazônia um sólido reduto para ela”.  Um ano depois, nascia o parque, hoje é tombado como patrimônio histórico do Brasil e do Pará. Recebe, por ano, 300 mil visitantes.

Entre espécies de fauna, vemos bichos preguiça, onça, anta, jacaré (Alcindo, um jacaré-açu de quatro metros e meio e 500 kg, tem 60 anos, na foto ao lado). Os animais são entregues ao museu depois de terem sido apreendidos pelo Ibama. “Também existem casos de pessoas que criam o bicho em casa. Em situações de emergência, recebemos e enviamos aos órgãos oficiais”, afirma o veterinário Antônio Messias Costa, que chefia o cuidado com os animais e não tem problema algum em chegar perto da onça Luakã, de oito meses, segurar a cabeça dela e imobilizá-la pelo maxilar, para saber se está tudo certo com seus dentes. 

O parque também abriga 500 espécies de plantas, entre ervas, cipó, arbustos e palmeiras. Tem samaúma, andiroba, castanheira, pau-rosa, dona da essência do famoso Chanel número 5, o perfume favorito de Marylin Monroe. Foi preciso tirar a placa de identificação dela, pois certas pessoas passaram a tirar lasquinhas do tronco para levar para casa. Há quem também tenha pisado de salto alto em uma Vitória Régia – o salto ficou por lá mesmo.

Histórias como essas fazem parte da biografia do Parque Zoobotânico. Dizem que os visitantes andam mais educados ultimamente – também pudera. Um lugar secular e interessante como esse não existe em todas as esquinas da cidade.

Assista a trechos da entrevista com Nilson Gabas Jr, diretor do Museu Goeldi.

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