Salve o Xingu | Pare Belo Monte
GUARDAMOS UM SILÊNCIO MUITO PRÓXIMO AO DA ESTUPIDEZ...
“Guardamos um silêncio muito próximo ao da estupidez...”. Assim Eduardo Galeano, escritor uruguaio, começa um de seus discursos. Não me recordo agora em que momento Galeano pronunciou estas sábias palavras, até mesmo por que elas se encaixariam em vários momentos de nossa História. “Guardamos um silêncio muito próximo ao da estupidez”. Cada vez que pronuncio estas palavras, elas soam mais e mais verdadeiras.
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Este é um texto sobre a construção da hidrelétrica de Belo Monte, uma grande obra de infra-estrutura que, se for realizada, configurará entre os grandes momentos de estupidez da história da Humanidade. Belo Monte. Uma grande e estúpida vergonha que, como muitas outras, está solidamente embasada na necessidade voraz de poder de uns poucos e no silêncio, próximo ao da estupidez, de muitos.
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Queridos amigos... Mais uma vez mando um texto a vocês pedindo que reflitam. Mais do que isso: peço que tomem ação. Nunca deixem que o rolo compressor das necessidades aristocráticas passe por seus direitos. Não sem uma boa luta.
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O começo dessa história tem mais de 500 anos.
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Não somos ensinados na escola (eu não fui, pelo menos) sobre a verdade do “descobrimento”. Eu poderia escrever um livro sobre isso, e na verdade, há muitos livros sobre isso. Desse modo, não entrarei em detalhes sobre a nauseante chegada do homem europeu às nossas terras.
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A história do descobrimento não é a história dos índios quando nós chegamos aqui, como fomos ensinados. Essa é a NOSSA HISTÓRIA. A história do extermínio de nossos antepassados, a história do furto de nossas terras e da construção dos sistemas de poder que regem os povos que hoje habitam a América Latina. Podemos ser uma mescla genética com povos provenientes de várias locais do planeta, mas nascemos aqui, esta é a nossa terra, e devemos zelar por ela.
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O ódio, a violência, o estupro de nosso continente pelo homem europeu, na realidade, nem pode ser descrito. Mesmo após o extermínio de quase todos os pindoramas, e após a retirada alucinante de nossos recursos e o envio dos mesmos ao exterior durante séculos de colonialismo (oficial e velado), ainda nos restou muito, pois nossa terra, a América Latina, é pródiga em riquezas naturais. Não, isso é uma grande e perigosa mentira... Não nos restou muito. Restou-nos muito, MUITO POUCO. Somente é muito, se comparado ao que restou nos países do hemisfério norte. Eles não têm mais florestas, não tem mais recursos. A guerra que eles perpetram por recursos justifica a morte de milhões de inocentes, em terras longínquas... Para muitos deles, isso é normal. O que nos restou não é muito, mas é a jóia das jóias. É raro, belo, necessário, vital. E é por isso que o Brasil vem recebendo tanta atenção do exterior: qualquer cego pode ver nossas riquezas (absurdamente escassas no resto do planeta) como uma oportunidade de poder político e econômico. Não podemos deixar que, cinco séculos depois, venham querer trocar nossas riquezas naturais e culturais por espelhinhos ou brinquedos de R$1,99. O planeta não suporta mais que ajamos com tanto desdém pela realidade e pelo nosso poder de ação. Eu, como cidadã de uma América Latina democrática, com sangue pindorama correndo em minhas veias, exijo ser ao menos perguntada sobre a construção de Belo Monte. E eu antecipo minha resposta: um sonoro e estrondoso NÃO!
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Agora, uma verdade escondida pelas propagandas da TV: a energia oriunda de hidrelétricas não é ecologicamente correta, uma solução verde, limpa, maravilhosa, uma dádiva dos céus. Muito pelo contrário. Informem-se! Abaixo deste texto disponho alguns vídeos e artigos sobre Belo Monte. Muitos especialistas estão gritando sobre a ganância cega e irracional debruçando-se com garras sujas sobre o que nos resta de beleza natural e sobre a cultura e a vida destes povos milenares, povos da floresta.
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Alguém aí se lembrou do filme Avatar? Sim, é a mesma história: a ditadura da ganância elevando-se e destruindo a terra fértil e diversa, sem arrependimentos. Se guardarmos nosso silêncio estúpido como uma forma de negação de nossa responsabilidade, estaremos compactuando moralmente com um dos piores fatos históricos de que seremos contemporâneos e conterrâneos.
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Então, meus amigos, peço-lhes que manifestem-se... No mínimo, com uma assinatura e, se possível, com muito barulho, para que pelo menos todos possam saber do que está acontecendo. Também para que nossos políticos saibam que somos mais do que massa de manobra. Somos cérebros pensantes, dotados de história, consciência, e direito de decisão sobre nosso futuro, e o futuro da terra que, como nossos antepassados, agora estamos habitando.
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Estamos promovendo, em Curitiba, uma grande celebração pela floresta intacta, pelo espírito dos pássaros e das fontes de água límpida, e pelo espírito da Terra presente em todos nós. Será uma expressão cidadã em defesa do Rio Xingu e de seus habitantes. Sábado, dia 12/02/2011, 15h, no Museu Oscar Niemeyer. Traga instrumentos musicais, alegria, vontade de mudança. Se você mora em outras localidades, faça um evento em sua cidade também: juntos, somos milhões – juntos, somos UM.
EU DIGO NÃO À CONSTRUÇÃO DE BELO MONTE
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